Ufa!

"Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho."

(Consolo na praia - Carlos Drummond de Andrade)

Cada verso deste poema vale para mim. E o "Ufa!" do título do post é só porque a última estrofe, não. Porque no fundo do túnel tem uma luz, que não é outro trem vindo loucamente na contra-mão. É uma réstia, uma emoção, uma noite maravilhosa, que foi precedida e sucedida de momentos muito ruins e muito bons, que diz que, no fim das contas, vale a pena seguir em frente, do jeito que se está. Coração doendo, injustiça engasgada, ilusão se despedaçando uma vez mais. Cada vez dói menos, e a preocupação é a possibilidade de se sentir cada vez menos. Prefiro ser como era antes: esquentada, bocuda, chorona. Agora, o que tem restado é deixar uma lágrima ou outra sair antes que a indiferença irrompa porta adentro, acenda a luz e diga: chega. Vá dormir agora.
Mas se os amores e as oportunidades passam, as fases ruins também. Ufa!

só pra mim.

preciso desabafar.
Estou loucamente feliz pela realização dela. E morrendo de inveja que ela foi atrás de tudo sozinha, sem contar pra ninguém, e foi capaz, com bolsa e tudo. Eu nem consegui um maldito trabalhinho de propaganda qualquer ou um empreguinho numa escola de inglês, por mais que tenha ido atrás, por mais curriculums que tenha entregue, por mais que tenha aberto mão de qualquer relacionamento. Abri mão sem mágoa, mas não sem dor, de todo e qualquer tipo de distração que pudesse retirar meu foco do meu objetivo principal. E ela não. Ela se entregou quando quis, quando apareceu um cara legal na vida dela. E no fim, ela tem tudo, e eu não tenho nada. Fiquei sem emprego, sem intercâmbio, e sem namorado. Com um sonho e uma desculpa idiota ribombando na cabeça: "Tudo bem, voce abre mao disso agora, pra depois conseguir o que quer". Que mentira absurda. Quem vai atrás consegue, não quem abre mão. E no fim eu não sou nem competente o suficiente pra conseguir ir atrás nem interessante o suficiente pra atrair ninguém. Eu parto os corações dos coitados que se metem a besta e gostam de mim, mereço sofrer pra sempre a dor da rejeição, por ser tão maldosa. Tão exigente, tão rigorosa nos critérios e nas cobranças. Bem feito pra mim.