Redação.

1) Me ajoelho ao chao e seguro sua cabeça inerte. O peito vermelho eu quase nao posso ver, as lágrimas me cegam e eu mexo no seu cabelo grisalho ainda com traços do ruivo intenso, grosso e curto, típico de um militar. Ouço vozes chamando por meu nome, e já não sei se é a mais nova ou se é a voz da culpa. Do desespero. E ao mesmo tempo, da indiferença. Me abraço no seu peito musculoso absolutamente em pânico, sem saber o que fazer, mas no fundo com a plena consciencia de que já está feito.
Quando nós nos conhecemos, foi amor à primeira vista. Eu olhava seus olhos azuis e sentia frio, calor, e tinha vontade esticar-me como uma gata ao seu toque. Ele me olhava de um jeito tão... bondosamente rígido. Quando falava-lhe alguma coisa boba, ele fazia essa cara de general carinhoso, que fazia-me sentir vergonha do que havia dito, e ao mesmo tempo tinha vontade de rir à sua expressao dura.
2)O namoro veio rápido. O casamento, pouco antes do Jorginho nascer, e por isso tivemos que fugir da cidade. Era pequena, todos comentaram e nós fomos morar perto da casa dos pais dele, que ficava na cidade grande. Ainda que longe da minha família, eu vivia feliz, cuidando do Jorginho e da casa, tinha minha estufa de orquídeas: minhas amigas, minhas confidentes. Delas eu não ficava longe; enquanto isso, ele trabalhava no quartel. Às vezes me proferia uma ou duas palavras duras, mas ele era assim. Não podia culpá-lo; o ofício no exército exigia que ele fosse "durão", como eu carinhosamente o chamei, durante 18 felicíssimos anos.
Ainda me lembro da gelada noite de inverno, o vento ricocheteava as janelas e ele chegou em casa, absolutamente alterado. Não era o meu Carlão.
- O que aconteceu, querido? - eu disse.
- Nada. NADA! - ele retrucou, duro como pedra. A noite, apesar do vento, estava silenciosa, eu quase conseguia ouvir sua respiração. E foi assim, simplesmente vindo do nada, a primeira vez que Carlão tomou-me a força, a coragem, o fôlego, a consciência.

3)Torci com fervor para que tivesse sido a última vez. Mas não foi. Estava grávida da minha caçula quando tudo aconteceu outra vez. E depois, quando ela nasceu. E depois. E depois. E depois. Mas Carlão era assim mesmo, afinal, e me conformei. Só me chateava quando ele batia na cara, pois as pessoas no mercado reparavam e eu chorava de vergonha, ali no caixa mesmo. As amigas que fiz, mães dos amiguinhos do Jorginho, me diziam pra ir à delegacia da mulher. Mas o Carlão era assim mesmo, o que eu podia fazer? Amava-o demais para o humilhar desse jeito, ir à polícia para me pôr contra ele! Nunca.
4) As orquídeas morreram, nasceram novas. Filhos já maiorzinhos, e Carlão só piorava. Um dia qualquer, estava lavando sua camisa, quando senti um perfume adocicado, importado, com certeza. Tratei de esfregar sua camisa, com raiva que só uma mulher que ama muito o seu marido tem, e tirei o maldito cheiro. Mas era incrível como, a cada vez que a camisa voltava, estava ainda mais cheirosa. Depois vieram as marcas de Channel nº 5. O batom que eu mais desejei na loja de departamentos estampado lá, na gola da camisa do meu marido. Quando vi que o cheiro, nem o batom sairiam, me conformei. Afinal, eu o amava muito, e ele era assim mesmo. Bonito, vistoso, firme.
5) Fui invadida por um completo choque, que se espalhou como veneno pelo meu corpo, quando levava uma bandeja com várias guloseimas, e, olhando através da fresta da porta, vi minha menina, minha única e imaculada menina, encolhida num canto da parede. Tinha as perninhas roxas e um olhar que, de tão apavorado, trouxe em mim a sensação que ela talvez tenha sentido naquele momento, e provavelmente pelo resto de sua vida. Ela me percebeu com seus olhos rasgados pelo trauma. E eu vi rolar dela uma única lágrima, que espatifou tudo que de vidro eu tinha nas mãos, que vacilaram.
6) Acordo com o barulho de carros ao longe, e me levanto para fazer o café. Sinto dentro de mim que hoje é um dia especial. Afinal, 25 anos ao lado do mesmo homem não é uma tarefa fácil, para qualquer casal. Tomamos café e logo hoje, ele não me lança um único olhar de cumplicidade. De carinho. De afeto. De bodas de prata. Mas hoje era um dia especial.
7) Ele chega em casa, e eu sinto dentro de mim tudo o que ficara cristalizado, em todos esses anos, vir à tona, como uma avalanche interior. Tudo está muito silencioso, afinal os meninos saíram, e não sei que horas voltam. Logo inicia dentro de mim uma dura batalha, entre o amor doentio que percebo que sinto, contra a violência, o desrespeito, a sede de vingança que de repente toma conta de mim. E, para minha profunda tristeza, o amor perde. Incontrolada pela raiva, a tristeza, o ódio que cresceu durante esses anos, tudo se resume em dezoito. Dezoito anos de felicidade incondicional. Dezoito anos repletos de carinho, afeto. E dezoito, dezoito golpes contra seu peito. Ele tentou reagir, mas tudo conspirou para que eu tivesse meu único momento de compensação. No lugar dos golpes, eu vejo, enquanto ele dá seu último suspiro, um desenho de algo que eu me dediquei a vida toda. Ali está, marca da vingança que eu nunca quis, e mesmo agora nao quero ter. Uma flor vermelha, como as orquídeas que eu tanto amo. Como o seu cabelo, que eu tanto adorei acariciar, desde que nos conhecemos.
E, então, tudo o que um dia fez sentido para mim se esvai, como uma brisa quente de verão.

2 comentários:

Anônimo disse...

eu adorei sua redassaum pod tah meiu pesada, mais se atrai a atenssaum ddo leitor
eu ax q vc comessou mtu bem, depoi o texto perdeu um poko a grassa se podia tira algumas coisas detalhistas d mais du texto, comu informassoes q naum irao mudar o sentido e o andar d texto, tem alguns erros d portugues mai tah bem massa e MTU MTU MTU MTU CRIATIVO adorei o final
e eu li duas vezes o final pq axei q terminou mtu de repent num sei explica, mai na hora q eu li o final eu falei jah?!?!
ahshashahsahsa
mai tah mtuuuuuuuuu massa seriam, conselho, primeru eu num manjo nada d redassaum, mai se eu fosse vc tirava alguns detalhes inuteis e concertava a coesaum e a coerencia do texto q em algumas partes naum estaum boas
o resto tah mtu baum
amei o final

bjaummmmmmmmmm
boa noitttttt

Anônimo disse...

foi meu esse comentario
xicoooooooooooo